terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Contagem oficial confirma impasse após eleição parlamentar na Itália

Centro-esquerda conquistou Câmara, mas Senado ficou dividido.
Situação preocupa mercados e pode levar a nova votação.

Do G1, em São Paulo
O Ministério do Interior da Itália confirmou nesta segunda-feira (25), com 99,9% dos votos contados na eleição parlamentar, que a centro-esquerda liderada por Pier Luigi Bersani conquistou o controle da Câmara, mas o Senado ficou dividido, confirmando o impasse político no país em crise financeira.

Após a contagem da quase totalidade dos votos, a centro-esquerda conseguiu uma vantagem de 125 mil votos na Câmara. Mas, no Senado, a centro-esquerda não conseguiu formar maioria.

Como ambas as Casas são necessárias para aprovar leis, a centro-esquerda vai precisar do apoio do Movimento Cinco Estrelas, do humorista Beppe Grippo, ou da centro-direita do ex-premiê Silvio Berlusconi, o que não é provável.

Se as forças políticas não conseguirem um acordo, uma nova eleição terá de ser convocada.

Tensão
O resultado gerou tensão nos mercados, pois é o oposto do resultado estável do qual a Itália precisa desesperadamente para combater a recessão, o desemprego e a dívida pública.

Os mercados da Itália, terceira maior economia da zona do euro, pareceram assustados com o andamento da apuração, depois de inicialmente subirem com a esperança de que um governo sólido de centro-esquerda se formasse, provavelmente com o apoio do atual premiê demissionário, o tecnocrata Mario Monti.

Monti disse que todos os partidos têm a responsabilidade de garantir que um novo governo seja formado após as eleições inconclusivas.

Votos são contados nesta segunda-feira (25) em Roma, na Itália (Foto: AFP) 
Votos são contados nesta segunda-feira (25) em Roma, na Itália (Foto: AFP)
 
O grande nome da eleição, realizada domingo e segunda-feira, acabou sendo o comediante genovês Grillo, líder do populista Movimento 5 Estrelas, que estreou numa campanha eleitoral nacional fazendo discursos cheios de xingamentos à desacreditada classe política tradicional.

Com promessas eleitorais vagas e candidatos quase desconhecidos, o ator canalizou a irritação popular contra o sistema político, visto por muitos como inútil e esclerosado.

O resultado das urnas é também um "tapa na cara do" anódino líder centro-esquerdista  Bersani, que parece ter deixado escapar uma vantagem de dez pontos percentuais sobre a centro-direita que as pesquisas lhe atribuíam há menos de dois meses.

Bersani estimou nesta segunda-feira que o país enfrenta uma "situação muito delicada" após os inesperados resultados.

"A esquerda conquistou a Câmara de Deputados e, por número de votos, o Senado. É evidente que o país atravessa uma situação muito delicada", declarou, após destacar que devido ao complexo sistema eleitoral sua coalizão não tem a maioria no Senado, o que ameaça a governabilidade.
 
Economia
A acirrada campanha eleitoral italiana, travada principalmente em torno de temas econômicos, deixou alguns investidores temerosos com um reinício da crise da dívida que em 2011 deixou toda a zona do euro à beira de um desastre, e que levou à substituição de Berlusconi por Monti.

Os resultados indicam que mais de metade dos italianos votou nas plataformas antieuro de Berlusconi e Grillo.

Dirigentes de centro e de esquerda alertaram que o iminente impasse pode tornar a Itália ingovernável, 
exigindo a realização de novas eleições.

No entanto, o vice-líder do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, rejeitou discussões sobre novas eleições e disse que sua coalizão terá a responsabilidade de tentar formar um governo, apesar do impasse no Senado.

"Quem quer seja, terá a responsabilidade de fazer as primeiras propostas para o chefe de Estado", disse ele. 
Depois da contagem final dos votos, o presidente italiano, Giorgio Napolitano, terá a tarefa de nomear alguém para tentar formar um governo.

Letta descartou uma nova eleição, dizendo que "voltar à votação imediatamente não parece hoje ser a melhor opção a seguir".

Um governo da centro-esquerda, sozinha ou em aliança com Monti, era visto pelos investidores como a melhor garantia de medidas que combatam a corrupção e a estagnação econômica.

Os primeiros resultados causaram pessimismo entre os investidores. O ágio entre os títulos italianos com vencimento em dez anos e os papéis alemães que balizam o mercado subiram de menos de 260 pontos-base para mais de 300, e o índice das Bolsas italianas recuou de modo a anular os ganhos dos últimos dias.

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