segunda-feira, 27 de março de 2017

Palazzo Venezia e a sacada mais polêmica de Roma

Palazzo Venezia, aquele localizado na praça homônima, no centro de Roma, foi palco de uma das páginas mais conturbadas da história italiana. De uma de suas janelas Mussolini pronunciava discursos e incitava multidões. Hoje o edifício é sede de um importante museu, mas a maioria dos romanos visita o lugar movida pela curiosidade de saber o que há por trás daquela sacada.

Todo turista que tenha circulado pelo centro histórico de Roma provavelmente passou pela Piazza Venezia e diante do palácio homônimo que domina a praça, aquele de tons de ocre e aparência austera nos arredores do Altare della Patria e da Via del Corso.
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Para os romanos, o Palazzo Venezia sempre foi um ponto de encontro. “Nos vemos debaixo da sacada”, costumam dizer ao combinar um programa qualquer, deixando subentendido que “a sacada” é aquela do Palazzo Venezia.
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O que nem todos os estrangeiros sabem é que a janela daquela sacada possui um significado histórico conturbado que gera sentimentos contraditórios nos italianos.  A maior parte daqueles que visitam o Palazzo Venezia são movidos não tanto pelo amor à arte, mas pela curiosidade de saber o que há por trás de sua famosa janela. Ninguém resiste a espiar como é Roma vista de lá do  alto.
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O edifício foi construído antes da descoberta do Brasil, a partir de 1465, por um cardeal que mais tarde foi eleito Papa: Paolo II Bardo. Um de seus ambientes é chamado de “sala dos papagaios” porque ali o pontífice criava pássaros exóticos.
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Um fato interessante é que como em Roma quase tudo era reciclado, acredita-se que em sua construção foi utilizado o mármore proveniente do Coliseu e do Teatro di Marcello.
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O pontífice era descendente de uma família veneziana e no interior do palácio você notará o brasão papal decorado com um leão, símbolo de Veneza. Daí deriva o nome desse importante edifício. Depois de residência papal, o palácio funcionou como embaixada da antiga República de Veneza (daí o seu nome) e também como sede diplomática austríaca.
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A partir de 1916 o Palazzo Venezia passou a ser uma propriedade do estado italiano e durante os anos do fascismo Mussolini o transformou em seu escritório. Ele trabalhava na chamada Sala del Mappamondo. Quem viveu naquela época em Roma costuma contar que as luzes do edifício ficavam sempre acesas para demonstrar que o ditador trabalhava incessantemente e que a sua suposta virilidade fosse reforçada publicamente pela entrada e saída de damas no palácio.
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Da sacada do Palazzo Venezia Mussolini incitava multidões, aguardava aplausos e exaltava a pátria. Foi de lá que ele declarou guerra à França e ao Reino Unido, anunciando que a Itália participaria da Segunda Guerra Mundial. Foram anos de delírio coletivo. Com as chamadas “leggi fascistissime” os partidos de oposição foram suspensos, a imprensa censurada e a escola tornou-se um dos principais canais para doutrinar as novas gerações sobre o regime totalitário.
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Quem assistiu uma das obras-primas de Ettore Scola, o filme “Um dia muito especial”deve lembrar que em 1938 as casas de Roma permaneceram praticamente vazias porque todos os cidadãos foram convidados a festejar a visita de Hitler a Mussolini. No filme, em um prédio da periferia da capital só uma dona de casa (Sophia Loren) e o seu vizinho homossexual (Marcello Mastroianni) ficaram em seus apartamentos.
Há mais de um século o palácio é sede de um museu. Inicialmente o espaço reunia obras de arte medieval e renascentista, hoje é dedicado principalmente a artes aplicadas. Ali você encontra pinturas, esculturas em madeira e em bronze, bustos, porcelanas, crucifixos, peças de prata, uma coleção de armas. Um dos quadros mais famosos é aquele de Cleópatra realizado por Carlo Maratta. A peculiaridade da obra que retrata a rainha amada por Júlio César e Marco Antônio é que na pintura ela é loira e não com os cabelos escuros, como sempre foi reconhecida.
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Quando visitar Palazzo Venezia olhe para cima e não deixe de admirar os afrescos do teto, como aquele do pintor toscano Giorgio Vasari. Parece incrível mas antes os afrescos de 1553 encontravam-se em outro importante edifício romano, o palácio de um banqueiro de Florença (Altoviti) que acabou sendo demolido. Em 1929 foram transferidos até o Palazzo Venezia e os afrescos homenageiam a terra natal da família de banqueiros (Florença), a cidade onde trabalhavam (Roma), a deusa da abundância e da agricultura (Cerere) e Michelangelo Buonarotti.
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Museo Nazionale del Palazzo Venezia também inclui ambientes externos como oLapidarium, pórticos repletos de objetos como sarcófagos e capitólios e uma vista incrível do Altare della Patria e um pátio com um jardim decorado com uma fonte barroca.
Hoje a famosa janela da sacada do Palazzo Venezia permanece fechada e protegida por um cadeado; uma maneira real e simbólica de evitar que alguém possa cair na tentação de reviver essa página do passado. 
Museo Nazionale del Palazzo Venezia: Via del Plebiscito, 118. Aberto de terça a domingo das 8h30 às 19h30. Ingressos: 5 euros. Gratuito nos primeiros domingos do mês.
http://post-italy.com/palazzo-venezia-roma-italia/

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