Rio - A tão estudada "Mona Lisa", de Leonardo da Vinci, ganhou nova análise. Uma pesquisa publicada na última edição da revista "Angewandte Chemie" usou, pela primeira vez, técnicas de espectrometria por raios-X fluorescentes para determinar como o pintor fazia a transição tão sutil entre as camadas de tinta.
O estudo do quadro e de outras sete obras de Da Vinci, feitas ao longo de 40 anos, mostrou que o renascentista conseguia dar pinceladas com menos de 40 micrômetros de espessura - o micrômetro é equivalente à milésima parte de um milímetro.
Da Vinci era um mestre da técnica conhecida como "sfumato" - a produção de gradações delicadas de tons ou cores pela tela, muito popular também entre outros pintores do Renascimento.
- Mesmo em frente a essas pinturas, você não consegue ver nenhuma pincelada, nenhuma impressão digital - constatou Laurence de Viguerie, que dividiu as análises com Philippe Walter. - É tudo tão bem feito, todos os elementos estão fundidos perfeitamente.
O estudo foi conduzido em salas do Museu do Louvre, em Paris, onde a "Mona Lisa" é exposta.
Segundo Lisbeth Rebollo Gonçalves, presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte, Da Vinci conseguiu resultados incríveis com o sfumato.
- A passagem do escuro da para uma tonalidade mais clara era usada para dar ideia de volume, como o torneado de um braço - explica. - O pintor renascentista trabalha com uma tela, que é bidimensional, mas ele quer levar a percepção naturalista a um ponto extremo. E Da Vinci consegue até aguçar o tato. Parece que conseguimos sentir a espessura de seus tecidos.
O aperfeiçoamento da técnica pelo renascentista não surpreende Elza Ajzenberg, professora da Escola de Comunicação e Arte da USP.
- Da Vinci definia a pintura como uma ciência - ressalta. - Seu ateliê era um verdadeiro laboratório. O sfumato, o claro-escuro, não era só uma técnica, e sim uma tecnologia. Além de elementos poéticos, há, ali, um estudo de ótica. Por isso é que não conseguimos enxergar qualquer rastro de pincel.
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