Uma lista de 100 filmes italianos foi apresentada na Jornada dos Autores de Roma, através do projeto "100+1, Cem filmes e um País". Foi a maneira que os idealizadores encontraram para relembrar algumas das produções mais significativas da Itália e levá-las ao encontro dos jovens estudantes e universitários. Na lista figuram obras-primas como "Obsessão" (1943, Visconti) e "Roma, Cidade Aberta" (1945, Rossellini) -- que marcaram o início do Neo-realismo --, além de muita comédia à moda italiana (de Mario Monicelli a Dino Risi), ou filmes de gênero (típicos em Mario Bonnard e Vittorio Cottafavi), ou ainda filmes de contestação político-ideológica (marco dos anos 60 e 70, com Elio Petri e Gillo Pontecorvo). E, naturalmente, Federico Fellini, mas também grandes ausências.
Os filmes foram selecionados dentro de uma faixa de 36 anos, entre 1942 e 1978, considerada a época de ouro do cinema italiano. A escolha ficou a cargo de uma comissão de dez críticos, historiadores e profissionais da indústria cinematográfica, entre eles Gianni Amelio e o roteirista Domenico Starnone. "Não são filmes para se 'salvar'. Essa lista, que é um catálogo provisório, aberto e provavelmente imperfeito, não é uma arca de Noé e não existe nenhuma catástrofe à vista", explica Fabio Ferzetti, delegado geral da Jornada. "Os filmes escolhidos não são necessariamente os mais bonitos ou importantes, mas, em seu conjunto, são como uma caixinha de ferramentas muito útil para reparar um diálogo interrompido com essa geração de jovens que não tem idéia do que perdeu. A lista servirá para contar o nosso país".
Como o próprio Ferzetti explica, no elenco de filmes faltam clássicos italianos excelentes e importantes: não figuram, por exemplo, nenhum dos filmes de Franco Zeffirelli, Damiano Damiani, Luigi Magni, Pasquale Squitieri, Mario Bava, Liliana Cavani, Lina Wertmuller, Sergio Leone (maestro do spaghetti-western), ou a obra-prima de Nanni Moretti, "Io sono un autarchico" (1977). O diretor mais citado é Fellini, com sete obras -- desde "Lo sceicco bianco" (1952) até "Amarcord" (1973) --, seguido, entre outros, por Luchino Visconti (com seis filmes), Francesco Rosi, Mario Monicelli e Vittorio De Sica (cinco), Dino Risi e Luigi Comencini (quatro), Marco Bellocchio, Pier Paolo Pasolini, Alberto Lattuada e Marco Ferreri (três). "Essa lista é só o primeiro vagão de uma locomotiva, serviu para dar a partida", continua Fabio Ferzetti. "Escolhemos os filmes segundo um senso comum. Há tanta comédia italiana porque pensamos no público que queríamos atingir. Entre os grandes, ficou de fora, por exemplo, Sergio Leone, porque suas histórias não eram italianas e porque sua popularidade já é alta. Outros, mesmo presentes, mereciam ter mais filmes citados, como Elio Petri ou os irmãos Taviani".
O projeto, financiado pelo ministério dos Bens e Atividades Culturais, conta também com a importante colaboração da Cinecittà Holding, um dos maiores centros produtores de cinema do mundo. Após a elaboração da lista, o novo objetivo é recuperar as obras e disseminá-las pelo país. "Junto à Cinecittà, temos agora um longo trabalho pela frente, de no mínimo seis meses, para entender de quem é que pertencem os direitos desses filmes. Não será fácil, pois muitos estão fragmentados e pelo menos um terço das obras não está em condições de projeção. Se conseguirmos propor dez filmes, já será um sucesso. E depois, ainda falta um amplo período a ser examinado, os nossos últimos 30 anos", lembra Ferzetti. Enquanto isso, o diretor Marco Bellocchio, com três filmes na lista, já declarou em uma nota pública que detêm os direitos de seu principal filme, "De Punhos Cerrados" (1965), e que oferece sua total "disponibilidade para a sua circulação".
Da Ansa