O projeto de lei 50/2007, da deputada Silvana Covatti (PP), que declara integrante do patrimônio histórico e cultural gaúcho o dialeto “Talian”, originado dos italianos descendentes radicados no Rio Grande do Sul, foi aprovado por unanimidade na sessão da Assembleia Legislativa desta terça-feira (19). Da AL, o projeto segue agora para o Palácio Piratini, onde deve ser sancionado dela governadora Yeda Crusius.
O projeto, já havia sido apresentado na Casa anteriormente pelo atual deputado federal Vilson Covatti (PP), mas que foi arquivado em razão do encerramento do ano legislativo. Conforme a deputada Silvana, ela reapresentou a matéria pelo grande significado histórico-cultural da língua Talian epelo reconhecimento de todos os imigrantes italianos e descendentes, que ajudam a construir, a cada dia, nosso Estado.
Histórico
O Brasil conta, segundo estatísticas, com uma população superior a 25 milhões de descendentes de italianos, originários da grande Imigração Italiana Agendada, entre os anos de 1875 e 1914. Mais de 80% desta população é originária das regiões do Trivêneto (Vêneto, Friuli Venézia Giúlia e Trentino Alto Ádige) e da Lombardia.
Através dessa maioria trivêneta, as formas de linguagem vêneta prevaleceram aos demais falares, sobretudo, na Região Sul do Brasil - que foram base da imigração direta - e desta para os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás (migração interna), os descendentes conservaram a fala familiar.
Mesmo prevalecente às demais, o dialeto dos trivênetos se mesclaram palavras de outros falares regionais italianos, especialmente dos lombardos (originários das províncias de Cremona, Mántova, Bérgamo e Bréscia e com muita proximidade aos falares trivênetos). A distribuição das famílias dos imigrantes em pequenas propriedades propiciou a manutenção de uma forma de falar que perdeu, ao longo do tempo, as formas originais. A língua foi enriquecida constantemente com novos termos e outros dialetos, numa dinâmica veloz, e palavras portuguesas foram incorporadas ao dialeto.
Tem-se, então, que da amálgama dos diferentes falares trivênetos e lombardos e, em pequena escala, dos falares de outras regiões, acrescidos à incorporação de palavras da língua portuguesa, formou-se uma nova língua, denominada pelos estudiosos de TALIAN, justamente para diferenciá-la da língua italiana oficial.
O Talian está ligado às origens da formação étnica do Rio Grande do Sul. Falar sobre o Talian é remontar e reconstituir, no tempo e no espaço, a vida dos habitantes do Norte da Itália. O Talian é o idioma falado por um milhão de pessoas no Brasil, sendo considerado uma língua neolatina, com direito a figurar ao lado das clássicas línguas italiana, francesa, espanhola e portuguesa.
E, neste sentido, é imperioso salientar que o Talian, com centenas de publicações literárias e didáticas, tais como cartilhas, dicionários e livros de gramática, é definido pelos estudiosos como uma língua formada no Brasil.
Faz-se mister destacar, igualmente, que, se o imigrante participou ativamente da vida brasileira, provocando transformações substanciais na economia e na modernização da agricultura, o Talian foi o instrumento principal que eles utilizaram para ajudar a modernizar o País. Tal como os imigrantes italianos, o idioma falado pelos mesmos também contribuiu ao Brasil.
Sem o Talian, as conquistas e vitórias ocorridas no Sul do País seriam mais difíceis e, porque não dizer inalcançáveis. O Talian é, por isso, um idioma que merece o mais alto respeito de todos.
O Talian merece ser Patrimônio Imaterial do Rio Grande do Sul. Merece porque ajudou a escrever a história de progresso e desenvolvimento do Brasil. Na história de nosso País e, notadamente, na história do Sul do Brasil, o Talian vai merecer, certamente, um capítulo à parte, pois foi ele que permitiu que esta região brasileira, dentre outras coisas, se comunicasse harmonicamente.
Dr. Paulo Massolini
Colaboração Mirna Lanius Borella Bravo