O auditório de Niemeyer em Ravello lembra seu projeto para o MAC, em Niterói (Foto: Giovanni Di Natale)
Com três dias de concertos musicais, um festival de cinema, shows de dança e uma exposição, será inaugurada nesta sexta-feira, na cidade de Ravello, na Itália, o Auditório Oscar Niemeyer.
A estrutura projetada pelo arquiteto brasileiro passou dez anos envolvida em polêmicas ambientais e legais até ser finalmente concluída.
A onda de cimento armado de Niemeyer pode ser vista de longe, num pequeno trecho da costa Amalfitana, no sul da Itália.
O novo auditório da cidade de Ravello, que fica debruçado sobre um precipício junto ao mar, custou 18,5 milhões de euros, ou RS$ 48 milhões, financiados pela União Europeia.
Obstáculos
Niemeyer começou a projetar o auditório em 2000, a pedido do amigo Domenico De Masi, sociólogo que preside a Fundação Ravello, que encomendou a obra.
O projeto demorou para sair do papel por causa de uma lei local que impede novas construções na cidade, de apenas 2,5 mil habitantes.
“A última grande construção em Ravello foi a Vila Rufolo, no século 11, que marcou a entrada da cidade no segundo milênio”, disse De Masi à BBC Brasil.
Baseada nessa legislação, a organização Itália Nostra, voltada para a defesa do patrimônio cultural, histórico e ambiental do país, acionou a Justiça para impedir a construção do auditório.
Depois de oito ações judiciais obstruindo a obra, o auditório finalmente saiu do papel quando o governo da região de Campânia aprovou uma lei regional se sobrepondo às restrições locais de Ravello e liberando a construção.
“A construção do auditório foi um primeiro milagre diante da burocracia do país. O segundo milagre foi deixar praticamente todas as pessoas a favor do projeto”, diz De Masi.
Para o sociólogo, assim como a vila Rufolo marcou a entrada da cidade no segundo milênio, o auditório Niemeyer lança agora Ravello no terceiro.
O auditório
O projeto italiano de Niemeyer lembra bastante o Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Assim como seu similar fluminense, o auditório italiano está à beira da costa, frente ao mar.
O auditório, em formato de uma enorme concha acústica, tem as fachadas frontal e lateral espelhadas, que duplicam o efeito visual da paisagem cinematográfica.
Internamente, as paredes e os tetos foram cobertos de placas onduladas de acrílico. Esse material, aliado ao formato côncavo do salão, garante uma reverberação sonora perfeita. O piso é de parquet (pedaços de madeira de tamanhos variados).
As poltronas foram desenhadas pelo próprio Niemeyer e produzidas pela fábrica italiana Frau, uma empresa de design de grande projeção internacional. As cadeiras são revestidas com uma tela especial em quatro tonalidades diferentes de azul, reproduzindo as cores do mar.
“Oscar Niemeyer se superou. Foi além das nossas expectativas, como sempre. O projeto foi realizado perfeitamente. Ele é mais bonito do que todos nós imaginávamos que seria. Falei com ele alguns dias atrás e o arquiteto está muito feliz com a inauguração”, disse à BBC Brasil o sociólogo De Masi.
Niemeyer na Itália
Para desenvolver o auditório de Ravello, Niemeyer não precisou pisar na Itália nenhuma vez. De Masi explica que fotos do local, mapas topográficos e visitas de colaboradores de confiança guiaram os olhos e as mãos do arquiteto ao longo do projeto.
“Nem sempre os arquitetos visitam pessoalmente os locais das construções. Isso acontece com bastante frequência na arquitetura”, disse.
O auditório não foi a primeira obra de Oscar Niemeyer no país. Em 1975, o arquiteto ergueu em Segrate, periferia de Milão, a sede do grupo Mondadori à imagem e semelhança do Palácio do Itamaraty.
Ao longo dos cinco anos seguintes, Niemeyer construiria o quartel-general da Fata Engineering, em Turim, com andares intermediários suspensos da terra e fixados com tirantes de aço, tudo apoiado em seis pilastras.
O arquiteto também projetou teatros em Vicenza e Padova e uma ponte em Veneza, entre outros. Nem todos foram concretizados, mas os croquis e maquetes fazem parte da exposição no auditório de Ravello sobre a carreira de Niemeyer.
Guilherme Aquino
De Ravello para a BBC Brasil