Acessório já foi identificado como Prada, mas é feito por sapateiro peruano.
Revista classificou peça como 'fashion' em lista; Vaticano protestou.
Do G1 com Reuters -
Na última terça-feira (25), o
Vaticano
informou que o Papa Bento XVI, ao deixar a liderança da Igreja
Católica, não só passará a ser chamado de Papa Emérito como também terá
de modificar suas vestimentas -- entre elas, os famosos sapatos
vermelhos, chamados de múleo, que serão substituídos por pares comuns de
calçados.
Mais famosos ainda depois de serem identificados em publicações
internacionais como calçados produzidos pela marca italiana Prada. Em
uma lista, em 2007, a revista americana “Esquire” apontou o Papa Bento
XVI como um dos 23 homens mais bem vestidos do mundo. Num grupo à parte,
foi eleito o "melhor portador de acessórios" -- os sapatos "Prada". Um
ano depois, o jornal oficial do Vaticano negou a história da origem dos
calçados, chamando-a de "frívola".
Um artigo publicado no “L'Osservatore Romano" explicava, à época, que
os sapatos do Papa, assim como sua coleção de chapéus chamados de
“extravagantes”, não têm nada a ver com vaidade, mas sim com tradição.
"Resumindo, o Papa não veste Prada, mas Cristo", dizia o texto, sem
especificar onde os sapatos eram produzidos.
O peruano Antonio Arellano, de 43 anos, fabrica o sapato vermelho de Bento XVI
(Foto: Tony Gentile/Reuters)
Peruano fabrica sapato papal
De acordo com a agência de notícias Reuters, os sapatos utilizados por
Bento XVI são feitos à mão pelo sapateiro peruano Antonio Arellano, que
tem uma loja instalada em uma rua estreita próximo à Praça de São
Pedro, na fronteira entre o Vaticano e a Itália (um limite entre os
dois países quase que imperceptível para os turistas).
O imigrante peruano de 43 anos, que vive na Itália há 20 anos,
“conquistou o direito” de fabricar o sapato papal ao prestar serviços
para o então cardeal Joseph Ratzinger, que recorreu à loja de Arellano,
anos antes de ser escolhido pelo conclave de 2005 que o escolheu Papa,
para consertar outro par de calçados.
Satisfeito com o trabalho, Ratzinger, já eleito
Papa Bento XVI,
ordenou então que seus calçados seriam produzidos por Arellano, que tem
na memória as medidas do Papa – o tamanho do calçado é 42 – e foi capaz
de fazer os exemplares distintos, da cor vermelha.
Arellano atendeu pedido de cardeal Ratzinger e conquistou a confiança do futuro Papa Bento XVi (Foto: Tony Gentile/Reuters)
Os sapatos de couro vermelho foram parte do vestuário dos pontífices
durante pelo menos dois séculos, mas o fato de Bento XVI usar sotainas
(uma espécie de bata) um pouco mais curtas que alguns de seus
antecessores torna mais visível seu calçado.
Ele disse à Reuters que se sente feliz quando vê o papa utilizando um
sapato feito por ele. Mas agora, com a saída do pontífice da liderança
da Igreja Católica, Arellano está na expectativa de permanecer com o
cliente, mesmo sabendo que seu cliente não poderá receber visitar após
se retirar da vida pública.
Depois da cerimônia, aconteceu uma breve audiência na Sala Clementina,
com algumas personalidades e autoridades para o tradicional "beija-mão",
em que o Papa é cumprimentado.
Quinta-feira, último dia
Na quinta (28), Bento XVI deixará o posto, em um acontecimento sem
precedentes na história da Igreja moderna. Na manhã de quinta, no
Palácio Papal, o decano do Colégio de Cardeais, Angelo Sodano, fará um
pequeno discurso de despedida, e então cada cardeal poderá separadamente
se despedir do pontífice.
A expectativa é de que cerca de cem cardeais
participem deste encontro, segundo o Vaticano.
Durante a tarde, no Pátio de Saint-Damase, no coração do pequeno
Estado, a Guarda Suíça carregará suas bandeiras em saudação. Em seguida,
por volta das 13h (horário de Brasília), Bento XVI irá para o
heliporto do Vaticano para viajar a Castel Gandolfo, 25 quilômetros ao
sul de Roma, a residência de verão do Papa, onde passará dois meses,
antes de se estabelecer em um mosteiro no Monte do Vaticano.
Bento XVI chegará à residência de verão e saudará os fiéis a partir da
varanda. Esta será sua última aparição como chefe da Igreja. Nada de
especial está previsto quando o relógio badalar oito horas da noite
(hora local), momento em que oficialmente termina o pontificado. Ele
provavelmente estará em oração na capela neste momento.
Às 20h, o pequeno destacamento da Guarda Suíça, em frente à residência,
fechará a porta e colocará assim um fim ao seu serviço, reservado
exclusivamente ao Papa. Mas a polícia vai continuar a garantir a
segurança de "Sua Santidade, o Papa Emérito". No Vaticano, a Guarda
Suíça continuará a fazer a proteção, apesar do "trono vacante".